O circo assim como toda forma de expressão da cultura popular, sofreu ao longo de sua trajetória, transformações necessárias à sua sobrevivência, resistindo e renovando de forma criativa e independente, misturando diferentes culturas em seus espetáculos, e hoje o circo apesar de tudo, se encontra mais vivo do que nunca. Entretanto, aqui pelas terras de Goiás, o circo está tão vivo quanto uma fotografia envelhecida. Segundo Win Wanders, “a gente tira fotografia para lembrar que existe”. Concordamos com ele, e apoiados nesse pequeno provérbio, refletimos a que a partir da premissa de uma imagem estática, fragmento de uma vida que já é passado, podemos resignificar nossa existência, ou pelo menos nossa compreensão das razões de estarmos no mundo, e fundamentalmente ampliar a percepção sobre as relações sócio-culturais que travamos no dia a dia da comunidade. Desta iluminação, podemos se assim quisermos, restituir ou mesmo atribuir valor de fundo aos personagens sociais, muitas vezes transparentes ao olhar de uma sociedade cada vez mais competitiva, globalizada, mercantilizada, donde o vil metal e a exposição midiática consumista predominam sobre peso do reconhecimento daquilo que de fato se constitui como uma matriz fundamental da nossa cultura.
Tomando essa metáfora como princípio nos animamos a propor esse projeto para valorizar um seguimento de artistas circenses, muito numeroso, e que por estar fora da lona ou ser de pequeno porte, realizando seu trabalho nas praças e vias públicas são ainda mais marginalizados. É urgente a realização de ações que possam valorizar e ao mesmo tempo propor a organização desse segmento com vistas a desvelar e difundir a profícua contribuição destes artistas, na construção da cultura goiana e nacional. Estamos propondo uma 4 edição do festival que começou em 2009, ao longo deste tempo e de suas edições anteriores, podemos perceber que os desdobramentos de nossa ação foram perceptíveis no que tange a inserção dos circenses fora da lona no meio cultural de Goiás.
Nossas atividades de mapeamento e coleta de depoimentos e material iconográfico dos circenses de Goiânia e região, configurou-se como a principal ação por nós desenvolvida. Isto porque a nossa a ação de registrar e difundir as historia artística e de vidas dessas famílias, passa necessariamente pela valorização da autoestima dos circenses. Desta maneira a bate papo por nós promovidos nas residências dos circenses, tendo como pano de fundo a rememoração das historia vividas, inusitadas, alegres ou mesmo trágicas, propiciam um positivo sentimento de reinserção social destes artistas no curso da historia cultural do Brasil. Um rico acervo de material composto por fotos, cartazes, textos de circo-teatro entre outros materiais, somados a 100 horas de depoimentos gravados constituem um rico acervo de memória circense que aos poucos tornamos público por meio do Museo do Circo Goiano. Os ganhos para cultura local são em várias dimensões, mas a principal está relacionada ao processo de registro desse importante patrimônio imaterial. Essa iniciativa conta com a importante parceria do Circo Laheto e também das famílias tradicionais de Goiânia.